A minha vida dava um livro ou uma saga II
É rir para não chorar!
Dizia a minha companheira de caminhadas, umas mais espaçadas que outras, agora que ela decidiu lançar-se por terras de línguas estranhas (se bem que eu acho que ainda não é por ali que ela fica, mas deixo-a estar), “não sei como tu aguentas?”.
Olha, às vezes nem eu sei. Só sei que a minha vida dava um livro ou uma saga. Ou uma daquelas trilogias tipo história interminável. Há dias assim…
É que, às vezes, quanto mais luto, mais luta me aparece pela frente.
E dizia-lhe: “tu sabes lá as montanhas que tenho que parir diariamente, e as que tive que desviar para te acompanhar, hoje, nestes 5km, à beira rio, entre a estação de Algés e o Padrão dos Descobrimentos, sob ventos ciclónicos. Eles (os navegadores) foram uns bravos e, nós, só por pisarmos o «Mundo» por eles navegado, ganhamos fôlego para o restante percurso. Adivinha-se chuva, e da grossa. Mas depois de um dia de sol, que começou, pelo menos para mim, às 6h30 com os tais 15 minutos a pedalar, uma ida à escola para deixar o pimpolho, uma ida para Lisboa, porque o teletrabalho era bom mas acabou-se, 320 respostas a emails e 299 telefonemas, uma saída a correr, entre ruas e travessas dos meandros de Algés, as energias estão renovadas. Até deu para beber café na esplanada!
Por dentro vais melhor
Achando eu que «ir por dentro» era melhor, eis que levo com obras aqui e acolá, e quando dei conta estava quase no Cais do Sodré para chegar a Algés. Basicamente de onde tinha partido, há escassos minutos. O trânsito até ajudou. Com esta coisa de recolhimentos obrigatórios e pandemias a concorrer com pessoas livres, na rua, a zona pedonal estava às moscas.
Às moscas que é como quem diz, porque com o frio, o vento e a chuva que tardava em desabar sobre as nossas cabeças, nem as moscas andavam por lá.
Resumindo: tudo fechado. E eis que começa a nossa corrida. Entre o passo de caracol e o de coelho ferido na pata traseira, lá fomos as duas a falar dos últimos meses em que não nos vimos.
Mas nada melhor do que interromper uma corrida digna de uma qualquer prova olímpica, sem direito a medalha, com uma tremenda aflição para fazer uma «mijinha».
Onde é que se faz xixi, quando se vai correr?
Veio-me logo à cabeça como aguentarão os maratonistas? Olho para um lado e para o outro e nada! Essa coisa de existirem casas de banho publicas, que funcionam a moedinha, também não ia adiantar de muito, porque ninguém corre de carteira na mão.
Quanto muito leva o telemóvel para contar os quilómetros e tirar a selfie da praxe para anunciar ao universo dos preguiçosos que correr é fixe. Mas pensar não alivia a bexiga e, não fosse uma dona Rosa, de bata azul e esfregona na mão a deixar-me aliviar na casa de banho do estabelecimento que desinfetava cuidadosamente e tinham-me rebentado as águas como se de um parto se tratasse!
Mas se o xixi não transbordou pela cintura abaixo, a chuva que se fez sentir no regresso aos carros tratou do assunto, e da cabeça aos pés. Ala que se faz tarde. Uma hora depois, saudades «matadas», há que voltar a casa. Na pior das hipóteses, passava a ponte em meia hora, assava o peixe que ficou a descongelar, em outros 30 minutos, uma salada e coiso… Lá para as 22h30 estaria deitada… Foi mais ou menos isso! Mais uns 30 minutos para arrumar a cozinha e pegar no sono. Fazendo as contas, das 23h às 6h30, até que não seria uma noite mal dormida.
Insónias! Alguém tem para a troca?
Depois que assento o esqueleto sob as penas do colchão, julgando que vou fazer um sono descansado, sou apertada por um mini corpo que está cheio de frio para dormir na sua cama sozinho e uma gata que acha que se dormir em cima de mim, garante que eu não fujo, durante a noite. A não ser que precise de vomitar bolas de pelo misturadas com verdura da árvore de Natal entre a manta da cama e o chão flutuante, perto das 4 da manhã! Aí muda tudo, porque tenho de me levantar e limpar.
Quando dei novamente por mim, estava o despertador a tocar! Ah, como é bom acordar, depois de uma noite descansada!
olha, valeu pelo exercício físico!
@MulherLusófona