Dar a um filho a importância que ele tem

Dar a um filho a importância que ele tem.

Foi assim que acordei hoje. É assim que acordo tantos dias, desde que sou mãe. Penso. Dou voltas à cabeça e tento imaginar como seria a minha vida sem o meu filho. O que sente uma mãe ou um pai quando perde o seu filho?

A dor deve ser visceral, sufocante, inimaginável.

Perder, por si só, já é um verbo pesado, que significa não ter mais, não poder ver mais, não poder tocar mais, sentir o cheiro, ouvir, rir e chorar.

Depois da morte de um filho, só se chora. Só se acorda, porque os olhos abrem. Só se respira porque o coração continua a bater e o oxigénio circula nas veias. Sobrevive-se, muito mais do que se vive.

Hoje, relembrei a morte

do irmão de uma amiga, com 21 anos. E mais de 20 anos passados, a sua ausência continua a ser notada. Lembrada e não esquecida.

A perda de um filho nunca se esquece

A minha avó perdeu um filho, em Angola. Tinha 7 anos. Já foi há mais de 50. Ela já morreu há 25. Mas ainda hoje, me lembro do semblante carregado, cada dia 10 de junho, data da sua morte. O silêncio, em casa, era imperioso. Nem uma luz, nem uma televisão, nem a rádio se ouvia. Só o silêncio. A paz possível dentro de um coração desfeito, que nem outros quatro filhos podiam fazer voltar a sorrir. Nem naquele dia, nem em nenhum.

A Fátima, perdeu o filho há menos de dois anos. Um trágico momento emocional fez com que pusesse termo à vida, com 2

1 anos, sem que a mãe pudesse saber ou fazer o que quer que fosse. Esse momento, essa angústia, esse sentimento de impotência acompanham Fátima todos os dias da sua vida. É a pergunta com que se levanta e a mesma com que se deita, para tentar dormir. Cheira a dor, a sofrimento, a perda irreparável.

Hoje, o Tony e a Fernanda perderam um dos seus filhos. Com 21 anos, Sara Carreira partiu. O facto de se tratar de uma família pública faz com que se aprofunde ainda mais a dor que estes pais estão a sentir.

Não devia ser permitido perder um filho

O ciclo da vida não devia permitir que os filhos partissem à frente dos pais. É injusto. É insensato. Não devia ser permitido. E volta a revolta. A que trago dentro de mim. A que por vezes também não me deixa dormir, sem questionar como se deita um pai ou uma mãe, sem saber onde está o seu filho, como se encontra, do que precisa. Como imaginará um pai ou uma mãe (se é que imaginam alguma vez) o que sente um filho, pela sua ausência voluntária?

O meu ainda dorme. Vou acordá-lo devagarinho, dar-lhe os bons dias e um beijinho. Faço-o todos os dias. Está naquela fase em que diz que os meus beijos têm baba como os cães. Mas eu insisto. Cada vez que a minha pele toca na dele sei que está ali, ao pé de mim. É o meu pedacinho de vida, que quero aproveitar cada segundo que nos resta deste caminho inesperado. No fundo, é dar a um filho a importância que ele tem. Espero nunca ter que passar por semelhante dor. Não estaria preparada. Ninguém está preparado para a morte de um filho, e arrancar assim parte do coração, dos sentimentos, da vida.

A todos os pais e mães que perderam os seus filhos, não há palavras que lhes valham. Apenas e só a coragem de tentar seguir, a cada dia que passa.

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