O pai também sofre pelos filhos.
Quando Rui ouviu a juíza do Tribunal de Menores ditar o resultado daqueles longos
meses de processo pela guarda partilhada dos dois filhos, percebeu que ia ter pela
frente uma interminável e complexa batalha.
Sem dó nem piedade, foi-lhe lida a sentença e a última frase transformaria a sua vida para sempre: “Os filhos devem ficar com as mães”.
Sentindo-se impotente, foi na mesa que estava à sua frente que deu um murro, que lhe valeu uns bons meses de pena suspensa por conduta imprópria em tribunal.
Mas para ele isso era muito pouco, comparativamente com a dor que estava a sentir quer pelo afastamento natural dos filhos, devido à separação, quer pelo acordo estapafúrdio que ali se assinava, entre ele e a mãe dos rapazes. Sebastião, de 8 e David, de 6 anos.
Um loiro e outro moreno, mas ambos com o mesmo semblante carregado e triste por verem o papá a chorar. E, Rui chorava por eles. Sentia que, cada passo que desse, era um ano de vida que perdia. Afinal o pai também sofre pelos filhos. Repetia vezes sem conta.
E, quando me ligou, já passava da uma da manhã, a dizer que não ia aguentar a pressão nem a tristeza de não poder viver os melhores momentos da vida dos filhos, pedi-lhe que viesse. Queria confortá-lo. Abraçá-lo. Mostrar-lhe que não estava sozinho. Mas cada segundo que passava era como mais um prego a cravar-se no coração, nas veias, nos sentimentos.
Rui sabia que tinha perdido uma boa parte do contacto com os filhos. Sabia que seria irrecuperável cada pesadelo em que ele não estivesse lá para confortar o mais velho, ou cada ferida para beijar nos joelhos do mais novo.
Era angustiante vê-lo a sofrer assim. Mal abri a porta, ele abraçou-me e sussurrou no meu ouvido: “O pai também sofre pelos filhos”.