Depois de um final de ano atípico e de férias estranhas, regressamos à escola com uma sombra em cima de todos nós. Parece que estamos todos a ser assombrados e que a única forma de acender a luzinha da esperança é proteção máxima! Kit “vai-te embora vírus!”. Parece engraçado, mas é real! Bastante exposição, então máxima proteção.
De acordo com as orientações da DGS, as escolas implementaram o melhor que conseguiram e fazem milagres para tentarem cumprir todas as medidas de segurança estipuladas. As assistentes operacionais e professores “armados” e prontos para dar conta deste bicho que nos assombra, através de afastamentos, bisnagadelas e esfreganços, tentando manter o carinho e afetividade que tanto faz falta.
Adiante, cá estamos nas escolas! É exigente para toda a gente usar máscaras o dia todo, estar constantemente a desinfetar e tentar controlar o contacto físico, o toque…. É muito difícil! Mas difícil, difícil está a ser para as crianças! As mais pequenas conseguem safar-se da obrigatoriedade de usar as máscaras em contexto de sala de aula. Os mais velhos devem usar, e ainda há alguns que arranjam um lollipop para comer na sala e ter argumento para não estar com a máscara colocada. Na minha perspetiva, é aquela faixa etária que está na adolescência ou pré-adolescência, que apesar da consciência dos riscos e de toda a informação fornecida nas escolas, encaram com descontração e despreocupação. Afinal de contas, nestas idades os dramas são outros.
Os recreios são mais curtos e os espaços físicos ou estão divididos/limitados ou a turmas frequentam-no de forma alternada. É suposto correrem/circularem livremente no recreio, brincarem com colegas com quem mais gostam, independentemente do facto de serem da mesma sala ou não.
Algumas crianças, as ditas normofuncionais, até conseguem encarar todas estas novas indicações com alguma leveza, outras vivem de forma tão intensa que tendem a fechar-se a evitar qualquer potencial forma de contágio, gerando um turbilhão de emoções tramado para gerir. É aqui que poderão surgir outras perturbações e patologias, é importante vigiar e esclarecer.
Se olharmos para as crianças com necessidades educativas especiais (NEE), aí temos a perceção do quão rebuscadas e quase inexequíveis, são estas medidas. Refiro-me a crianças com perturbações de desenvolvimento (a vários níveis), paralisias, grandes limitações em termos motores, com baixa autonomia ou até mesmo com estereotipias do género: esfregar a saliva das mãos com bastante frequência. Crianças que gostam de colo, gostam de abraços, gostam de cócegas e estão habituadas a ter. E agora? Como fazemos nestes malditos tempos? É justo privar? Mas como se resolve? Roupa de astronauta? Não consigo negar o colo, mas é impossível, em plena consciência ignorar a sombra.
Pais, tutores…adultos próximos das crianças, tenham atenção às mudanças de comportamento, fobias, mudanças na alimentação e no sono, de forma a detetar eventuais questões e intervir o quanto antes, minimizando danos e salvaguardando o bem-estar físico e emocional das vossas crianças.
Kátia Miranda
Profissão: Psicóloga Educacional
Naturalidade: Lisboa
Idade: 38 anos