Novembro sempre foi o meu mês preferido quando vivia em Angola. Pela festa da Dipanda, por passar a celebrar o meu aniversário no Verão, pelas mangas nos alguidares das zungueiras, pelas celebrações que havia a toda a hora em todos os lugares, pelo Viriato da Cruz e aquele verso do ‘Namoro’ – “como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas”…Por isso queria vir aqui e escrever só Feliz Dia da Dipanda, Angola! Colocar uma foto bonita que me lembrasse das saudades que tenho de um país ao qual sou devedora e escrever umas frases que refletissem a importância inequívoca desta data de celebração coletiva. Sim, há 45 anos fazia-se História para Angola e para o mundo. Desconsegui. Estive a acompanhar os protestos marcados para este 11 de Novembro e é impossível não sentir uma profunda tristeza. Como é que se disparam balas verdadeiras com a justificativa de se estar a salvaguardar a saúde pública?! Tudo tão desproporcional, tão desnecessário, tão inquietante pelos aproveitamentos ali sempre à espreita que o futuro pode trazer. No dia de hoje, toda a minha admiração por quem, no passado, lutou contra o colonialismo e pela libertação do país, por todos aqueles anteriormente excluídos e explorados que tomaram na mão o destino e se tornaram construtores do seu próprio futuro. No dia de hoje, também, toda a minha solidariedade para quem, no presente, saiu às ruas por um País melhor. “Levantemos nossas vozes libertadas”.
Por Joana Simões Piedade, jornalista