Celina Pereira a “morna que nos deixa”
O
Obra de luislevylima.art
É o destino a seguir o seu o seu curso. Umas vezes alenta-nos, outras surpreende-nos com as suas escolhas.
O mesmo palco que fez brilhar Celina Pereira, deixa-nos agora a saudade da sua partida.
Mas a música, tem em si todas as formas de amar e recordar, para sempre aqueles que nos entram em casa, no carro, na vida, através da rádio, do gira discos, dos singles e álbuns de sucesso mundial.
E pensar que a sua música nos acompanha há mais de 40 anos. “Boavista Nha Terra”, foi o primeiro single a ser editado, em 1979. No mesmo ano em que eu nasci. Deve ser por isso que Celina Pereira me inspira tanto. A mim e a tantos milhares de fãs. De Cabo Verde para o Mundo.
Desde o lançamento do seu primeiro single, esperou 7 anos até ao lançamento do primeiro disco.
“Força di Cretcheu” – “Força do meu amor”
E foi a força desse amor, o seu, que a fez crescer enquanto cantora e não só. Histórias, cantigas de roda, brincadeiras, casamento, trabalho. Todas as sonoridades numa estrela só. Celina Pereira a “Morna” que nos deixa.
Na década de 90 brindou-nos com o LP “Estória, Estória… No Arquipélago das Maravilhas”, reeditado em formato audiolivro, em “Harpejos e Gorjeiros”, onde canta em crioulo e português, iniciou o seu trabalho como contadora de estórias, editou o álbum “Nós Tradição”, participou na compilação “Pensa nisto” e no disco “Lusofonia de 2000”, num dueto com Martinho da Vila, em “Nutridinha (nutridinha do sal)”.
Para sempre nas nossas memórias
É, sem dúvida uma das vozes cabo-verdianas mais premiadas de sempre. O seu reportório de altíssimo e respeitável talento ficará para sempre nas nossas memórias. E no plano das consagrações, igualmente.
Medalha de Mérito – Grau Comendadora – entregue em 2003 pelo presidente português, Jorge Sampaio, pelo seu desempenho na área da educação e cultura de Cabo Verde; Prémio “António Alba” – Itália, 1991; Prémio Cabo Vídeo Brockton Massachussets/USA em 1994; Prémio C.A.C.D. Providence/USA, em 1996; Prémio Amílcar Cabral Nápoles/Itália e Medalha do Vulcão de 1.º Grau Presidência da República de Cabo Verde em 2007; Diploma de Honra e Mérito da A.I.P.A. Açores, 2009.
Com uma carreira recheada de momentos de glória, Celina Pereira é muito mais do que apenas uma cantora. É uma educadora, contadora de histórias, escritora, embaixatriz da música africana pelo Mundo.
A sua vasta discografia continua a ser aplaudida e acarinhada tanto em Portugal como no estrangeiro, já tendo marcado presença em alguns dos mais conceituados palcos da Europa, como a Opera House, de Frankfurt, na Alemanha, Olga Cadaval (Sintra) e Teatro São Luís (Lisboa).
Discografia
Bobista, Nha Terra / Oh, Boy ! (Single, Monte Cara, 1979)
Força de cretcheu (Lp, Dacapo, 1986)
Estória, Estória…No Arquipélago das Maravilhas (1990)
Nos Tradição (Melodie, 1993)(Sonovox, 1994)
Harpejos e Gorgeios (CD, Sonovox, 1998)
Estória, estória… no arquipélago das maravilhas vol. 1 (CD, Movieplay, 1998)
Estória, estória… no arquipélago das maravilhas vol. 1 (audiolivro, Editora Independente)
Estória, estória… do tambor a Blimundo vol.2 (audiolivro, Tabanka Onlus, 2004)
Uma inspiração para todos
Da Ilha da Boavista para São Vicente, Celina seguiu os passos da sua família. Foi dela que herdou grande parte da sua inspiração artística. Era no avô paterno que via os seus primeiros exemplos da poesia, da música, da cultura.
Com apenas 8 anos, iniciou aquele que seria um grandioso percurso na música como representante da música cabo-verdiana.
De solista do orfeão, ao Parque do Éden, Celina ainda encontrava tempo para, às escondidas do pai, entreter os trabalhadores, nos seus serões, ao som da sua voz.
Atuou pela primeira vez, como profissional, ainda na década de 60. Tinha 25 anos e cantou com o Grupo cabo-verdiano “Ritmos” e mais tarde com Bana.
No auge da sua carreira artística, recebeu inúmeros convites e participou em vários programas de televisão, incluindo em Portugal onde a sua música e o seu talento sempre foram muito acarinhados.
O seu grande sonho sempre foi poder exaltar a música da sua terra natal e fazê-la chegar o mais longe possível.
Celina Pereira a “Morna” que nos deixa, foi uma das grandes mentoras da elevação da Morna a Património Imaterial da Humanidade e, junta-se agora a Cesária Évora, no reino das melhores de sempre.
Texto de Rita Simões
Quanta tristeza! Ainda me recordo, nos anos 80 quando fui trabalhar no Aeroporto de Lisboa e cruzava com ela na TAP. Depois passei a frequentar os locais onda cantava e encantava, mais regularmente no Monte Cara(depois Bana’s) e outros bares de Lisbos. Ainda estive num almoço na Associação de Cabo-Verde em 2017, sentei-me na mesa onde ela estava acompanhada pela sobrinha São da TVI e ainda falamos um pouco. Deus a tenha em Eterno descanso pois foi-se juntar ao coro do Anjos no Céu.